A rearticulação da leitura no mundo moderno e no contemporâneo
e o caso do Dicionário Biográfico
das Esquerdas Latino-americanas

Luccas Eduardo Maldonado*


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Bibliografia

* Doutorando em História pela Universidade de Campinas (UNICAMP). https://orcid.org/0000-0003-0476-1600.

(I)

Um dos projetos mais interessantes estabelecidos nas Ciências Humanas nos últimos anos foi o Dicionário Biográfico das Esquerdas Latino-americanas.1 A empreitada, organizada pelo Centro de Documentação e Pesquisa da Cultura das Esquerdas (CeDInCI) da Argentina a partir de setembro de 2020, tem como objetivo constituir um dicionário que reúna perfis biográficos de personagens que desenvolveram atividades políticas vinculadas às esquerdas na América Latina ao longo dos séculos XIX, XX e XXI.

A relevância do projeto não só é a constituição de um dicionário. Esse gênero não se mostra como algo novo nesta parte do mundo, produziu-se tal tipo no subcontinente desde no mínimo o século XIX, mesmo o subgênero dicionário biográfico conta com vários exemplares elaborados naquela época.2 O que se destaca é o suporte da construção. Sua propriedade de ser online viabiliza possibilidades de trato de informações que não estavam no horizonte em um universo de trabalhos feitos em papel.3

O presente texto objetiva debater algumas potencialidades dispostas por tal projeto e por tantos outros que vem se construindo por meio das tecnologias online. Mais precisamente, almeja-se questionar como o suporte específico viabilizado pelos computadores proporciona novos recursos, tanto no plano da exposição e trato de informações quanto no âmbito de sua análise. Realizar-se-ão quatro movimentos analíticos em um exercício de indução. O primeiro será centrado em uma exposição histórica editorial, debatendo as transformações na conjugação entre forma, conteúdo e suporte nos textos entre o período moderno e contemporâneo. Em suma, colocar-se-á uma hipótese articuladora de que o fenômeno da leitura pouco se alterou até a invenção da internet e que se formou na atualidade novas formas de se ler. O segundo movimento partirá desse argumento para debater a respeito das possibilidades de pesquisa postas pelas novas formas de leitura e viabilizadas pelos mecanismos de busca de informações. O terceiro, por sua vez, seguirá um caminho semelhante, mas abordará as potencialidades no trato das informações para as Ciências Humanas. O último oferecerá maior materialidade às reflexões constituídas ao colocar em questão o Dicionário Biográfico das Esquerdas Latino-americanas em um duplo movimento. Iniciar-se-á dispondo sobre o significado social desse projeto e algumas de suas potencialidades. Terminará apontando suas contribuições aos estudos dos intelectuais.


(II)

Exdiste um debate há muito estabelecido sobre as vinculações entre forma e conteúdo. Há várias postulações de que a forma de um texto traz em si, concatenada, uma série de significados e possibilidades que estão para além das palavras reunidas na própria construção, constituindo um sistema cuja carga semântica é superior aos sentidos postos na totalidade de suas frases.4 A internet e os computadores, contudo, colocam uma questão: o quanto o suporte viabilizado pelas novas tecnologias se vincula com a carga semântica de um texto encerrada pela forma e pelo conteúdo?

Um dos historiadores contemporâneos do livro, Roger Chartier, deu uma longa entrevista ao jornalista Jean Lebrun, que se tornou a obra A Aventura do Livro, na qual narra a transformação histórica dos suportes textuais. Chartier argumenta que a transposição de suportes, fazendo apontamentos sobre a troca do papiro pelo papel e a invenção da imprensa por Johannes Gutenberg no século XV, rearticulou as experiências da leitura e os sentidos dos próprios textos. Um dos seus exemplos é a conversão do livro manuscrito ao impresso, que supostamente criaria uma relação menos individualizada e mais mercadológica com o leitor, apagando a faceta artesanal do livro copiado. Nessa linha, a reprodutibilidade técnica destacaria a dimensão mercadológica diante da estética.5 Realçar tal argumento pode, contudo, oferecer a impressão de que Chartier coloca uma grande distinção entre a leitura moderna e a pré-moderna.6 Na verdade, o autor dispõe que há “uma continuidade muito forte entre a cultura do manuscrito e a cultura do impresso”.7 Tais considerações por parte de Chartier tendem a colocar em evidência transformações históricas vinculadas ao universo do leitor, ou seja, foca-se em dimensões circunscritas ao indivíduo.

Pode-se pensar, por outro ângulo, o fenômeno da leitura como um processo que atravessa largamente a vida social, de como o consumo dos textos reorganiza a existência de inúmeras pessoas, seja tangendo os seus imaginários a partir da experiência estética, seja reorganizando os seus destinos a partir do seu fim na burocracia estatal —o que destaca inclusive que não se precisa ser alfabetizado para estar sob o império do papel. Nessa esteira, a invenção da imprensa de Gutenberg pode ganhar, por exemplo, uma significação disruptiva mais latente em uma interpretação a respeito do passado, assim como o faz o historiador Frédéric Barbier em A Europa de Gutenberg. Argumenta-se nessa obra que a invenção da imprensa, no limite a concepção de uma forma de trabalho com o suporte textual, viabilizou a emergência de um novo momento cultural marcado pela excepcional circulação de informações, o qual se costuma chamar de modernidade.8

Vislumbrar a modernidade a partir do mundo contemporâneo, marcado pela transposição de informações em velocidade quase instantânea, pode gerar ceticismo em relação ao quanto a invenção da imprensa alterou as possibilidades de circulação dos textos. Deve-se, no entanto, evitar o equívoco de se projetar o presente no passado sem a devida mediação reflexiva. A historiografia é sempre um exercício analítico feito do hoje em relação ao ontem. Trata-se de uma condição tácita, não uma posição facultativa por parte de quem escreve. A questão, portanto, é o autor se instrumentalizar conceitualmente para enfrentar essa particularidade, pois, como apontou o erudito norte-americano David Lowenthal em seu livro The past is a foreign country, “O passado também carece de consenso temporal. Dependendo do conteúdo e contexto, o passado se converte no presente em qualquer tempo, seja um instante ou uma eternidade atrás”.9 Em outras palavras, um dos riscos do trabalho histórico é projetar o presente sobre o passado, retirando da elaboração analítica preocupações sobre aquilo que se preserva e aquilo que se transforma ao longo do tempo, ou até mesmo reduzir a relevância de mudanças acontecidas em tempos pretéritos devido à intensidade das transformações dadas em tempos mais recentes.

Voltando ao cerne da questão, os argumentos de Barbier e Chartier não são contraditórios. A articulação dessas posições, a primeira focada nas dimensões macro e a segunda nas micro, é fértil. Pode-se postular, a partir dessa linha de raciocínio, que a generalização da leitura por meio do impresso transformou qualitativamente o mundo ocidental. Em outros termos, a difusão de um fenômeno antes restrito a uma elite teve a capacidade de gerar transformações sociais. O mundo mudou com a criação da imprensa, no entanto o fenômeno da leitura pouco se alterou em si porque a manifestação do texto na sua forma, conteúdo e suporte não passou por grandes reorganizações.

Tais considerações podem servir como um contraste explicativo para a situação que a internet põe aos textos e à leitura na contemporaneidade. A vigente aceleração no processo de difusão de informações, profundamente mais intensa do que se dera no início da modernidade, trouxe novas possibilidades na maneira de como se faz pesquisa e se lê. Existem alterações qualitativas tanto no geral, quanto no específico, no que se refere ao uso e difusão de textos. Isso está associado a uma transformação significativa do suporte, mudança que o deslocamento entre cópia manuscrita e impressão não dispunha. Os reordenamentos nas possibilidades de acesso à bibliografia, fontes e arquivos e de estruturação de um texto que a internet dispõe lança uma série de perguntas sobre as potencialidades no trato e análise de informações.


(III)

O mundo não mudou de tamanho nos últimos 500 anos, a distância entre Paris e São Paulo ou Maputo e Rio de Janeiro continuam as mesmas. O que se transformou foi a possibilidade de circulação de informações por meio de recursos técnicos, nos quais se pode vislumbrar uma contínua dinamização e difusão entre o telégrafo, rádio, televisão e internet.

Se formos assumir o antiquário como uma espécie de ancestral dos atuais pesquisadores em humanidades, é possível ver uma manutenção na preocupação de se acumular informações. O antiquário visava ter o mundo em sua residência; mais correto seria dizer que personagens como Nicolas-Claude Fabri de Peiresc, para dar o nome de um dos mais notáveis antiquários do período moderno, gastavam muito dinheiro e tempo para concentrar em suas casas objetos que remetessem ao passado: livros, mapas, manuscritos, estátuas etc. A acumulação e o estudo são características comuns entre aqueles que pretendem investigar um problema profundamente, seja no passado ou no presente. O aprimoramento técnico, no entanto, alterou as possibilidades de reunião de informações. É mais dinâmico e barato nas últimas décadas coletar a bibliografia e as fontes sobre determinado tema do que jamais fora. Há de se apontar que tal mudança não se deu por causa de um fator único, estando também entre eles o avanço da estruturação de arquivos, centros de pesquisas e universidades.

Essas transformações estão provavelmente concatenadas com a maior preocupação a respeito do mapeamento e circulação de textos que marca as Ciências Humanas desde os anos 1990 quando ocorreu o chamado “giro material”. O artigo, “The History of Ideas: Precept and Practice, 1950-2000 and Beyond” do historiador norte-americano Anthony Grafton, demarca a relevância de autores como Carlo Ginzburg, Robert Darnton e Roger Chartier para a consagração desse tipo de abordagem. Tais pesquisadores redigiram trabalhos que colocavam em evidência o consumo social dos textos e a análise da vida intelectual para além de um cânone definido.10 Destaca-se, em suma, a articulação entre contexto e ideias, entre os novos recursos e a preocupação dos acadêmicos, que criou possibilidades de pesquisa e quebrou inclusive a imagem do intelectual como uma figura socialmente deslocada.

A preocupação de se mapear sistematicamente a circulação de textos não é uma demanda nova. Sua realização, no entanto, já foi de mais difícil constituição. O que requeria largo tempo de exercício de erudição, ao se levantar e tratar informações em distintos livros, revistas, jornais, etc., em suma em toda uma miríade de fontes, articuladas exclusivamente pelo cérebro e pelas anotações do pesquisador, pode ser acelerado significativamente, lançando possibilidades de mapeamentos mais rápidos a partir de uma série de recursos das novas tecnologias.

Por exemplo, um sítio como o WorldCat permite mapear as mais variadas edições de um título em bibliotecas públicas e privadas ao redor do mundo. Para se ter a dimensão da proporção do empreendimento, 512 milhões de registros bibliográficos em mais de 400 línguas são sintetizados pela plataforma.11 Possibilita-se com tal mecanismo reunir de forma rápida boa parte da bibliografia de um autor e do seu processo de difusão internacional, encontrando onde consultar os originais e montando um primeiro esboço da estrutura de circulação editorial. A plataforma constitui um bom ponto de partida aos pesquisadores preocupados em identificar os caminhos sociais da leitura.

O que dispõe o suporte oferecido pelo WorldCat é uma possibilidade. Pode-se, por outro lado, citar outros interessantes projetos que adensam a capacidade de levantamento em pesquisas, a partir de um reordenamento da leitura viabilizado por mecanismos como o Optical Character Recognition (OCR). São exemplos a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil e o Perseus Digital Library da Universidade de Tufts. O primeiro disponibiliza diversos jornais editados desde o século XIX com sistema de busca de palavras.12 O segundo reúne variados textos clássicos gregos e latinos, permitindo a identificação de palavras comuns entre eles. Viabiliza-se identificar a presença de um termo utilizado n’A Política de Aristóteles em distintos materiais do mundo antigo catalogados pela plataforma. Leituras cruzadas e cotejos são assim facilitados por tal meio.13 Duas estruturas entre tantas outras que colocam recursos úteis para a História, Filosofia, Filologia, Crítica Literária, etc.

Não se está argumentando que o historiador ou outro especialista equiparar-se-á à prática do colecionismo ou do antiquário, “o homem que se interessa pelos fatos históricos sem se interessar pela história” na interessante definição do estudioso italiano Arnaldo Momigliano, buscando insistentemente por tudo que remeta a determinado assunto.14 Também não se está indicando o desaparecimento da necessidade da consulta em arquivo. Não é o fim da história. A constituição da análise continuará sendo um problema central e a existência desses recursos não fará desaparecer a necessidade de pesquisas em arquivos físicos, já que a totalidade das fontes jamais será digital —para não se adentrar em um debate sobre o limite tipográfico documental que o digital tem a capacidade de acolher. Na realidade, ganhou-se tempo com procedimentos de seleção de informação, viabilizando ao estudioso o uso de sua energia em outras tarefas, como por exemplo na crítica das informações selecionadas a partir da plataforma e na articulação de seus sentidos.

No limite, esse conjunto de transformações expresso nas formas de pesquisa estão vinculados com uma reorganização na dimensão micro da leitura. Mais precisamente, o suporte disponibilizado por várias plataformas da internet viabiliza uma distinta maneira de se ler incrustrada na tradicional. Pode-se em determinados meios consumir um texto da mesma maneira que se faz há muito, deslocando o olhar da esquerda à direita e de cima para baixo, seguindo os encaminhamentos da estrutura das línguas latinas, mas também se mostra possível criar mecanismos de procura a partir desse suporte em cima do texto, criando uma leitura balizada por critérios de escolha.

Criar um processo de seleção de partes de um texto, destacando aquilo que seria mais importante, não é um procedimento novo. Fichamento, marginalia e grifo são estratégias constituídas há muito, das quais um leitor se utiliza para preterir certas frações a despeito de outras. A questão é que no suporte papel todas as demarcações devem ser feitas manualmente, pela própria mão de quem se apropria do texto. O suporte oferecido por alguns computadores permite, diferentemente, a realização semiautomática a partir da escolha de palavras chave. Obviamente que a demarcação de toda vez que a palavra traição aparece em Dom Casmurro de Machado de Assis ou em Otelo de William Shakespeare não constitui uma interpretação a respeito da dimensão trágica dessas obras como críticos literários fizeram destacando certas passagens e refletindo sobre elas. Estar atento, por outro lado, à fortuna semântica de certos autores expressa em determinadas palavras se mostra como um movimento construtivo, o qual foi facilitado por meio desses mecanismos de leitura postos pelos novos suportes.


(IV)

A possibilidade posta de selecionar uma palavra do texto de maneira quase automática é uma das formas da leitura que o mundo contemporâneo dispõe. Trata-se de um recurso, entre tantos outros que o suporte articulado pelos computadores possibilita, que auxilia no processo de levantamentos de informações. Visa-se a partir desse momento destacar outros recursos os quais esse suporte específico possui. Contudo, deslocar-se-á o prisma do geral ao específico, destacando como os textos em si podem ser articulados em uma distinta experiência de leitura. Para tal, partir-se-á de uma reflexão sobre como era a feitura dos primeiros trabalhos sobre a circulação internacional de ideias no Brasil.

Toma-se, a título de comparação, dois estudos pioneiros sobre a recepção do marxismo na América Latina: O marxismo no Brasil de Edgard Carone e A derrota da dialética de Leandro Konder.15 Essas primeiras abordagens históricas, elaboradas por autores nascidos entre as décadas de 1920 e 1930 e lançadas nos anos 1980, foram constituídas sem qualquer recurso técnico vinculado à informática —o mais próximo que Carone tinha disso era sua máquina de escrever da marca Olivetti.16 Na prática, os autores coletaram fontes ao longo do tempo, deslocando-se entre arquivos públicos e privados, bibliotecas e outros espaços nos quais podiam identificar por exemplo a primeira obra de Karl Marx ou Lenin editada no Brasil ou o histórico de citações de autores socialistas.

A partir desse trabalho minucioso que podia levar anos ou décadas, os autores montavam em seus arquivos pessoais sistematizações com as informações levantadas, o que destaca inclusive a relevância do arquivo privado para a pesquisa como apontou o sociólogo norte-americano Charles Wright Mills no seu texto “Sobre o artesanato intelectual”.17 Esse trato de informações laborioso e insistentemente constituído se derivou no caso de Edgard Carone em fichas nas quais sistematizava diacrônica e qualitativamente as informações reunidas.18 Leandro Konder, por sua vez, realizava um procedimento semelhante, dispondo em cadernos temáticos as informações sobre determinados problemas.19 Esses dois pesquisadores, no limite, tratavam suas fontes, criando material que serviria de subsídio para a redação de suas obras.

Esse itinerário que constitui o começo e o fim da atividade de pesquisa pode ser simplificado pela tríade: fontes, sistematização e obra. Ao se observar somente os livros finalizados, o leitor corre o risco de perder a dimensão de que um trabalho é uma construção. Uma dessas elaborações é o exercício de pesquisa o qual se mostra parcialmente revelado por um recurso fundamental sem o qual não existe moderna historiografia: as notas de rodapé.20 Esse recurso, institucionalizado por Leopold von Ranke, é o melhor caminho existente para se indicar os entretempos que constituem a atividade analítica na sua tríade. Mais precisamente, a nota oferece um lastro de que uma fonte foi selecionada e analisada, conectando o documento a todas as dimensões do processo de pesquisa. Não seria exagero afirmar, seguindo o argumento de uma autora severamente crítica à falta de seriedade de muitos pesquisadores contemporâneos na indicação do seu trabalho documental, que é o uso das notas de rodapé que “valida todo o empreendimento” analítico das Humanidades.21 Condição que põe esses paratextos como os fundamentos de sua construção e, portanto, uma questão corporativista capital diante daqueles que desejam tolher ou diminuir sua relevância no ofício acadêmico.

Quando Carone e Konder escreveram os seus trabalhos, as notas de rodapé eram os únicos recursos possíveis para fazer a conexão. Podia-se no máximo colocar no final do livro ou em um outro volume parte das fontes consultadas pelo pesquisador, por exemplo como fez Edgard Carone nos seus volumes sobre a história da república;22 Allain Darbel e Pierre Bourdieu em O amor pela arte;23 ou Vamireh Chacon em Formação das Ciências Sociais no Brasil.24 O computador, por sua vez, viabiliza uma rearticulação nessa interação. Constitui-se pela primeira vez a possibilidade de se reduzir a distância entre fontes e obra, dispondo nas próprias notas mecanismos que remetam aos documentos utilizados pelo autor, embora emerja uma série de desafios que se deslocam entre sistematização e viabilização de acesso. Tal recurso se mostra profundamente enriquecedor ao exercício científico que requer procedimentos comprobatórios e a elucidação dos seus movimentos analíticos. Esboça-se a possibilidade de dispor o texto juntamente com uma conexão para com a fonte, viabilizando uma edição que seja a análise e o meio para seus documentos.

Toma-se por exemplo o livro O grande irmão do historiador Carlos Fico, especialista na ditadura militar brasileira. Nessa obra, o autor dispõe como anexo uma seleção de documentos retirados do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América (EUA). Tais fontes sustentaram parcialmente sua análise sobre as posições históricas dessa instituição em relação ao governo brasileiro ao longo de aproximadamente duas décadas. Foram selecionadas na prática um pouco mais de 20 páginas, caracterizadas pelo autor como as mais significativas. Na realidade, esse recorte é um universo muito circunscrito diante das quase cinco mil páginas consultadas pelo historiador no Arquivo Nacional dos EUA e em bibliotecas presidenciais. Somente as notas, no presente caso de fim de texto, conseguem oferecer uma dimensão mais objetiva do que foi trabalhado.25 O autor realiza rigorosamente todo o procedimento de indicação, todavia a obra se encontra encerrada pelos próprios limites do papel. Coloca-se em nossos dias a possibilidade de reelaboração da obra de Fico em um suporte online no qual articule as notas com os documentos. Na prática, o texto poderia ser refeito tencionando tal articulação, pois existe um projeto em construção do Arquivo Nacional dos EUA que visa digitalizar os acervos do poder executivo federal.26 Dispõe-se obviamente muitos desafios que dificultam a concretização de tal possibilidade, todavia os meios para tal já existem e alguns procedimentos necessários já foram feitos.

A questão fundamental é que esse reordenamento entre a construção da análise e a disponibilização das fontes altera duas coisas de grande significação social. A primeira é o fenômeno da leitura já que a intertextualidade, antes mediada por uma nota que se limitava à própria materialidade do papel, se reordena para a vinculação direta do texto com outros textos, podendo o interessado se deslocar na trama de referências que envolve e sustenta um escrito. A construção argumentativa, ou seja, a maneira como um autor se apropria de uma série de recursos para montar uma tese como se fosse um castelo de cartas, pode ser mais claramente identificada. Contudo, coloca-se ao mesmo tempo o risco de uma leitura profundamente fragmentária, pois quem lê fica vulnerável a se perder nos caminhos apresentados pelas notas, de forma semelhante como ocorre hoje com um internauta embaralhado nas várias abas do seu navegador, sem saber o começo nem o fim do que fez ou faria. Esquece-se assim de maneira quase despercebida a forma de leitura tradicional em prol da nova.

A segunda consequência é particularmente importante aos acadêmicos. Em um universo onde se mostra fundamental o exercício comprobatório, a ponte quase imediata entre texto e fonte coloca em evidência o movimento analítico e suas balizas. Viabiliza-se uma situação na qual está mais claro o que é documento e análise, podendo-se identificar mais facilmente os limites entre eles. Parte das críticas direcionadas à coleção sobre a história da ditadura militar brasileira do jornalista Elio Gaspari se conecta ao seu exercício analítico fundado na documentação do general Golbery do Couto e Silva, a qual é privada e somente ele tem acesso.27 Mostra-se difícil identificar em diversos momentos da obra os horizontes interpretativos reivindicados por Gaspari. Uma resposta às contestações seria a disponibilização das fontes, ou melhor, reelaborar o livro em um suporte no qual as notas remetessem aos documentos.28

Nessa esteira, a distinção entre profissional e diletante, entre pesquisador metódico e irresponsável, se torna um pouco mais clara já que se pode vislumbrar o documento em tensão com o texto, revelando o cuidado sistematizado e contextualizado das fontes balizado em uma metodologia em comparação com abordagens detentoras de referenciais frouxos. Tal transformação provavelmente iria na direção de um adensamento no debate teórico-metodológico das Ciências Humanas diante do elogio da exploração de uma determinada lacuna ou fronteira temática como muitas vezes se faz para validar um trabalho. O apelo à expressão de uma espécie de representatividade da ausência mais esboça uma falácia de autoridade do que uma validação epistêmica daquilo que se propõe construir como projeto investigativo.

A concluir essa parte, todo esse argumento a respeito da vinculação entre fonte e análise coloca em evidência um fundamento especialmente caro para as democracias contemporâneas e para a pesquisa acadêmica feita com dinheiro público: a transparência. No limite, esse reordenamento seria um meio de se criar mecanismos de verificação mais qualitativos.


(V)

Coloca-se, portanto, um momento particularmente significativo às humanidades devido aos diversos reordenamentos do fenômeno da leitura vinculados aos avanços técnicos —desafios esses que certamente extrapolam a academia, afetando inclusive aspectos fundamentais da forma política contemporânea. Juntamente aos obstáculos, articulam-se possibilidades, sendo uma entre elas concebida pela equipe do Dicionário Biográfico das Esquerdas Latino-americanas. Analisar-se-á tal projeto nesse momento, assumindo as argumentações postas até aqui. Tenciona-se refletir sobre o dicionário em dois níveis. No primeiro, pautar o seu significado aos mais novos avanços das Ciências Humanas. No segundo, inferir o quanto essa abordagem pode ser útil aos estudos das esquerdas e mais especialmente aos dos intelectuais.

Esse projeto possui razoável significação aos universitários latino-americanos, pois esboça um esforço no avanço nas vinculações entre programação e produção de conhecimento. Os países da região raramente estiveram na vanguarda tecnológica. A situação segue a tendência no caso específico do dicionário online – como também em questões mais estratégicas ao Estado-Nacional como o 5G, as formas de energias renováveis etc. Destaca-se por sua qualidade nessa combinação certamente o empreendimento francês Dictionnaire Biographique Le Maitron, projeto com mais de 200 mil verbetes e diversos recursos de trato qualitativo de seus textos.29 Isso não significa, por consequência, a ausência de preocupações e esforços a respeito entre os latino-americanos. Há uma extensa e histórica bibliografia dedicada às carências técnicas do subcontinente.

A relevância do Dicionário Biográfico das Esquerdas Latino-americanas está na vinculação entre a forma do conhecimento e o próprio conhecimento que a feitura de um dicionário eletrônico encerra, sendo essa distinção meramente analítica. Conceber o conhecimento como algo imaterial ou incrustrado no interior de um crânio é perder de vista aspectos fundamentais de que na realidade ele está articulado nos próprios itens, sejam livros, laboratórios ou computadores, apropriados por um indivíduo ou coletividade. No limite, o exercício de um professor está validado tanto por sua explicação, quanto pela demonstração dos seus referenciais; em outras palavras, tanto pela categorização de um evento, como a reação de um ácido e uma base na formação de um sal, quanto pela demonstração empírica por meio do seu laboratório, dispondo ácido clorídrico e hidróxido de sódio criando cloreto de sódio e água. Oferece-se um exemplo da mais básica ciência Química. A situação, no entanto, não seria muito distinta nas teorias das partículas elementares como o caso do Bóson de Higgs. Existe uma construção conceitual específica fundada em um experimento o qual foi realizado a partir do acelerador de partículas Large Hadron Collider (LHC). Na realidade, esboçam-se várias teorias e experimentos, sendo o saber científico esse complexo emaranhado.

No limite, a forma da episteme enseja o próprio exercício epistemológico, ponderação que destaca a relevância das novas formas de leitura postas pelas tecnologias. O Dicionário Biográfico das Esquerdas Latino-americanas está articulado com esse problema e sua posição de empreendimento latino-americano é relevante. Esse projeto específico está vinculado à disputa do conceito de Ciências Humanas e dos limites disciplinares, pois intenta reordenar o campo ao reorganizar o fenômeno da leitura por meio de novas tecnologias. Obviamente que isso dentro dos singelos limites da tarefa do Dicionário diante da amplitude que são as humanidades, contextualizado ainda pelas dificuldades de se fazer pesquisa em países sem grande tradição tecnológica e sendo apenas um entre alguns outros planos nesse sentido. Contudo, esboça um esforço dentro de um movimento mais amplo que ganhou significativa importância especialmente após a pandemia do Covid 19.

A questão em certa medida pode ser pensada por meio da frase de Emmanuel Le Roy Ladurie “l’historien de demain sera programmeur ou il ne sera plus”.30 A afirmação traz em si o olhar de seu tempo marcada pelo tom quantitativista da Segunda Geração dos Annales, destacando a relevância dos computadores no processamento de dados de fundos documentais extensivos. Por outro ângulo, pode-se dispor a existência de um distinto significado, provavelmente não previsto pelo autor. Obviamente que não se é necessário saber programação para ser historiador na atualidade e o futuro não parece mostrar algo distinto disso. No entanto, as inovações técnicas que afetam o papel, a leitura e a escrita produzem consequências na carreira, na realidade nas humanidades como um todo, porque reorganizam parcialmente o conhecimento, tangenciando o domínio conceitual e a materialidade com ele ensejada.


(VI)

O Dicionário Biográfico das Esquerdas Latino-americanas, mesmo que não tenha uma grande elaboração técnica na constituição do seu suporte no momento, tendo semelhanças com o sítio do Wikipedia na sua lógica de páginas articuladas com hyperlinks, se mostra com um significativo potencial no sentido de articulações e criação de informações, podendo oferecer subsídio às Ciências Humanas. Deve-se levar em conta que, como está escrito na sua página de abertura, é um “proyecto en construcción”, tanto no sentido que é alimentado constantemente com novos verbetes e não tem um fim planejado como um livro em papel, quanto em relação ao seu suporte que pode ser rearticulado.

A iniciativa visa congregar pesquisadores para produzir verbetes biográficos de personagens da esquerda latino-americana. Os hiperlinks servem para conectar os textos existentes, esboçando uma rede. A constituição dessas pontes é a principal forma de leitura não tradicional disponibilizada pelo mecanismo, pois possibilita um exercício transversal. Pode-se, assim, a partir dos próprios verbetes e do navegador mapear vínculos sociais. Cria-se nesse trajeto uma informação por meio do cotejo de distintos textos. Possibilitar-se-á com o avanço das pesquisas ter uma dimensão significativa das vinculações sociais dos grupos de esquerda, servindo de horizonte para análises mais adensadas e facilitando investigações de cunho internacional, aliás essa é uma de suas grandes pretensões.31

A título de exemplo, o próprio autor desse texto em um estudo ainda no prelo sobre a editora Laemmert conseguiu adensar informações sobre a circulação internacional de ideias entre Brasil e Argentina por meio do dicionário ao encontrar dados sobre o médico e militante socialista argentino José Ingenieros em um verbete.32 Essa figura central da história do socialismo da Argentina no começo do século XX teve um dos seus livros menos conhecidos, Tratado del Amor,33 publicado no Brasil por meio da ação do intelectual e editor Luiz Alberto Moniz Bandeira nos anos 1960.34 Um contato, que ainda requer mais investigação, entre os dois países platinos foi parcialmente esclarecido por meio do dicionário. Quando for elaborada uma entrada para Moniz Bandeira, essa mínima vinculação entre os dois lados da América do Sul se esboçará claramente.

A dimensão internacional do projeto é particularmente relevante, característica revelada em dois níveis, tanto na sua construção, quanto no seu conteúdo. A primeira está na pretensão de articular especialistas originários de todos os países da América Latina. É algo sutil, mas importante de se destacar. Foi o avanço técnico que viabilizou a generalização do computador e da internet, pondo a possibilidade de comunicação constante por meio de correio eletrônico e a criação de um sítio moldável, não limitado ao tempo do projeto editorial em papel. Seria praticamente impossível articular um número tão grande de especialistas sem esses recursos. Se uma das pretensões do dicionário é estudar as redes sociais das personagens, o próprio projeto é também uma grande rede de dimensões continentais.


(VII)

A opção pelo termo profundamente amplo de “esquerda” dispõe uma amplitude significativa de atores que podem ser convertidos em objeto. Por um lado, adiciona-se como temática as tradicionais lideranças partidárias como Julio Antonio Mella, Victor Raúl Haya de la Torre e Astrojildo Pereira; como também quadros menos conhecidos como Carlos Baliño e Maria Werneck para citar alguns exemplos precisos, entre os quais alguns contam com verbetes.35 Em suma, toda uma miríade de perfis é posta como possibilidade em um entremeio que se desloca da Terra do Fogo ao Rio Bravo.

Considerando tão profunda complexidade social tomada como universo investigativo, decidiu-se circunscrever a reflexão deste artigo ao nicho dos intelectuais de esquerda. A escolha se deve à área de especialidade do autor e ao histórico de suas contribuições ao dicionário.36 Almeja-se questionar nesse movimento como o suporte utilizado pelo Dicionário Biográfico das Esquerdas Latino-americanas proporciona recursos, tanto no plano da exposição e trato de informações quanto no âmbito de sua análise, aos pesquisadores interessados em se aprofundar nas particularidades do ofício da escrita e da reflexão, ao qual o mundo das esquerdas oferece diversos exemplos.

Uma das características das Ciências Humanas nas últimas décadas é a especialização temática e o dicionário não se coloca fora de tal situação, talvez até seja uma de suas consequências. Não obstante os riscos de algumas investidas desse tipo se tornarem uma forma de voyeurismo temático, perdendo a capacidade de explicação do social devido aos limites extremamente circunscritos, há grande valia na abordagem uma vez que pode ajudar a compreender fenômenos mais amplos por meio de detalhamentos.37 Toma-se, por exemplo, as investigações regionais sobre as greves operárias no Brasil desdobradas a partir da Revolução Russa de 1917. Os primeiros estudos focavam em São Paulo e Rio de Janeiro, as duas maiores cidades do país. Existem abordagens contemporâneas sobre municípios menores, revelando aspectos importantes dos efeitos do acontecimento em distintos pontos do país.38 Por outro ângulo, a especialização se coloca também aos estudos dos intelectuais. O mencionado “giro material” designa uma rearticulação ao destacar estudos focados para além dos principais livros de um autor ou não limitados a um cânone.39 O reordenamento se concatena bem com algumas pretensões do dicionário como a de constituir um mapeamento sistemático da produção escrita dos intelectuais, com seções específicas nas quais se podem incluir seus livros, artigos, traduções, etc.

Essa particularidade dispõe duas consequências. A primeira se refere ao conjunto de fontes usadas por tal tipo de abordagem: textos de jornais e revistas, obras pouco conhecidas, folhetos, anotações, cartas e outras formas se tornam objeto de análise, juntamente dos arquivos pessoais das personagens estudadas. Extrapola-se um universo circunscrito para se pensar a integralidade da produção textual de uma vida, ou pelo menos se esboça a tentativa da realização desse mapeamento. Dimensão do projeto reveladora da vocação enciclopédica do gênero textual dicionário, presente desde suas origens no Iluminismo e ainda vigentes. Há de se apontar que a possibilidade da ponte entre o texto e o documento existe na plataforma, pelo menos parcialmente. Um dos recursos do Dicionário Biográfico das Esquerdas Latino-americanas é se vincular ao AméricaLee, outro projeto do CeDInCI que disponibiliza edições fac-similares de jornais e revistas latino-americanos.40 Viabiliza-se assim a indicação semidireta a um texto —literal expressão de uma leitura não-linear. O verbete do anarquista Celedonio Arenas se utiliza desse recurso, apresentando uma porta até as publicações da personagem no jornal La Protesta.41 A segunda consequência é a percepção de que uma existência e uma obra não são lineares e contam muitas vezes com cortes abruptos, distinções captáveis pela verificação das transformações das qualidades dos textos e dos vínculos sociais ao longo do tempo.

Movimentos esses que distanciam abordagens de cunho hagiográfico e determinista, além de outros estereótipos. Um entre eles é o de perceber um autor exclusivamente pela sua obra mais conhecida. Verbetes detalhados poderiam ajudar a analisar o uruguaio Eduardo Galeano para além de sua magnum opus Las venas abiertas de América Latina, deslocando-se por toda uma constelação de escritos em variadas publicações menos rememoradas.42 De forma semelhante, o cubano Nicolás Guillén, autor de uma extensa produção multifacetada em temáticas e formas, poderia receber novos olhares. No Brasil, é principalmente destacado por sua apologia da Revolução Cubana. Dois dos seus livros editados no país, Páginas Cubanas e Antologia poética, remetem à antonomásia de “poeta da revolução”.43 Existe na prática todo um acervo textual a ser enfrentado capaz de revelar autores elaborados e polivalentes que transitaram ao longo de suas vidas por distintos momentos, estilos, ideologias etc. A vida social é complexa e repleta de transformações, sendo muitas dessas novas posições contraditórias com as passadas.

A proposta do Dicionário Biográfico das Esquerdas Latino-americanas não serve apenas para revelar dimensões complexas de pensadores e para sistematizar suas obras. Possui também o potencial de servir de horizonte para alguns problemas centrais vinculados aos estudos dos intelectuais por meio do cruzamento de informações. Um questionamento possível é a respeito da profundidade da internacionalização entre os intelectuais, problema trabalhado por variadas perspectivas. Uma consideração particularmente impactante de Pierre Bourdieu a respeito, no seu conhecido texto “Les conditions sociales de la circulation internationale des idées”, é que, não obstante a aparência, o grupo se coloca envolto em uma série de “nacionalismos” e “imperialismos”, saindo pouco do seu espaço nativo.44 Tal afirmação gera um certo contraste com o estereótipo de “república das letras” responsável por associar os intelectuais a um cosmopolitismo quase inato. Posição que se mostra ainda mais contraditória com um dos principais argumentos de Ángel Rama, no seu livro póstumo La Ciudad Letrada, de que mais do que em outros espaços os letrados latino-americanos se caracterizam por uma profunda internacionalização.45 Contrastar Rama e Bourdieu é um rico exercício analítico. Mostra-se, contudo, necessário aprofundamento na temática, sendo o Dicionário um recurso particularmente útil.

A concluir, o Dicionário Biográfico das Esquerdas Latino-americanas é uma das pontas de um amplo processo de reorganização do fenômeno da leitura viabilizado pelo reordenamento do suporte que as novas tecnologias disponibilizam. A posição secundária da América Latina entre os países capazes de desenvolver técnicas dispõe uma dimensão estratégica ao projeto, obviamente que dentro dos limites da empreitada. Além disso, é significativo para a denominação do conceito de Ciências Humanas e também esboça uma série de potencialidades para a área em estudos gerais e específicos. Considerando-se tudo isso, o Dicionário coloca-se com razoável importância e, portanto, se esboça como uma meritória conquista de seus organizadores, o que requer por consequência constante atenção e responsabilidade. Recolher-se-á provavelmente resultados qualitativos desse projeto no futuro.


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The re-articulation of reading in the modern and contemporary world and the case of the Biographical Dictionary of the Latin American Left

Resumo

O presente texto objetiva debater algumas potencialidades do Dicionário Biográfico das Esquerdas Latino-americanas, publicação online empreendida pelo Centro de Documentação e Pesquisa da Cultura das Esquerdas da Argentina. Articula-se este projeto com uma discussão a respeito das transformações históricas do fenômeno da leitura, levando-se em conta como a internet alterou diversas de suas características.

Palavras-chave: História da leitura; Dicionário biográfico; História intelectual.

Abstract:

This text aims to discuss some potentialities of the Biographical Dictionary of Latin American Lefts, an online publication organized by the Center for Documentation and Research of the Culture of the Left in Argentina. This project is articulated with a discussion about the historical transformations of the phenomenon of reading, taking into account how the internet has changed several of its characteristics.

Keywords: Reading history; Biographical history; Intellectual history.

Recibido: 24/07/2022.

Aceptado: 9/9/2022.


1 O autor é devedor do auxílio de três pessoas para a elaboração desse artigo. Gostaria por isso de agradecê-las: Caio Cesar Pedron, João Victor Lourenço de Castro e Sandra Jaramillo Restrepo.

2 Sandra Jaramillo Restrepo, “Diccionario Biográfico de las Izquierdas Latinoamericanas. Movimientos Sociales y Corrientes Políticas: un proyecto que inicia su construcción”, Políticas de la Memoria n° 20, 2020, p. 291-310.

3 O site do projeto é https://diccionario.cedinci.org

4 Para uma reunião de textos que debatem as tensões entre forma e conteúdo a partir do interessante gênero textual ensaio, Cfr. Paulo Roberto Pires, Doze ensaios sobre o ensaio, São Paulo, IMS, 2018.

5 Dialoga-se tangentemente com o texto “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” de Walter Benjamin. Walter Benjamin, “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, Obras escolhidas, São Paulo, Brasiliense, 1994, pp. 165-196.

6 Para um estudo que destaca várias distinções entre a leitura pré e pós invenção da imprensa, Cfr. Herbert Marshall McLuhan, “O efeito do livro impresso na linguagem do século XVI”, Edmund Carpenter y Herbert Marshall McLuhan (org.). Revolução na comunicação, Rio de Janeiro, Zahar, 1968, pp. 154-165.

7 Roger Chartier y Jean Lebrun, A aventura do livro, São Paulo, Unesp, 1999, p. 9.

8 “A tese central trata do papel estruturador da mídia: a modernidade se manifesta por um novo status dos textos e por uma evolução radical de seus conteúdos, evolução particularmente visível nos domínios científicos, mas esses fenômenos só são compreensíveis graças à mudança da mídia dominante. As condições de funcionamento do impresso, inclusive as práticas que lhe estão ligadas, enquadram e orientam, em todos os níveis, a produção do discurso e os modelos que subentendem essa própria produção”. Frédéric Barbier, A Europa de Gutenberg, São Paulo, Edusp, 2018, p. 23.

9 “The past also lacks temporal consensus. Depending on content and context, it passes into the present anywhere from an instant to an aeon ago”. David Lowenthal, The past is a foreign country, Cambridge, Cambridge University Press, 1985, p. 192.

10 Anthony Grafton, “The History of Ideas: Precept and Practice, 1950-2000 and Beyond”, Journal of the History of Ideas, Vol. 67, n° 1, 2006, pp. 1-32.

11 O site do projeto é https://www.worldcat.org/

12 O site do projeto é https://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/

13 O site do projeto é https://www.perseus.tufts.edu/hopper/

14 Arnaldo Momigliano, “O surgimento da pesquisa antiquária”, Arnaldo Momigliano, As raízes clássicas da historiografia moderna, São Paulo, Unesp, 2019, p. 93.

15 Edgard Carone, O marxismo no Brasil, Belo Horizonte, Dois Pontos, 1986. Leandro Konder, A derrota da dialética, Rio de Janeiro, Campus, 1988.

16 Atualmente disponível no Museu Republicano de Itu, órgão da Universidade de São Paulo (USP).

17 Charles Wright Mills, “Sobre o artesanato intelectual”, Charles Wright Mills, Sobre o artesanato intelectual e outros ensaios, Rio de Janeiro, Zahar, 2009, pp. 21-58.

18 Material que se encontra no seu fichário no Museu Republicano de Itu.

19 O arquivo de Leandro Konder está no Departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Agradece-se a João Victor Lourenço de Castro por compartilhar as cópias dos cadernos de estudo de Leandro Konder.

20 Para um intrigante livro sobre as origens e a relevância das notas de rodapé, Cfr. Anthony Grafton, As origens trágicas da erudição, Campinas, Papirus, 1998.

21 Gertrude Himmelfarb, Ao sondar o abismo, São Paulo, É Realizações, 2019, p. 198.

22 Edgard Carone, A Primeira República, São Paulo, Difel, 1988. Edgard Carone, A República Velha I, São Paulo, Difel, 1988. Edgard Carone, A República Velha II, São Paulo, Difel, 1983. Edgard Carone, A Segunda República, São Paulo, Difel, 1978. Edgard Carone, A República Nova, São Paulo, Difel, 1982. Edgard Carone, O Estado Novo, São Paulo, Difel, 1988. Edgard Carone, A Terceira República, São Paulo, Difel, 1976. Edgard Carone, A República Liberal I, São Paulo, Difel, 1985. Edgard Carone, A República Liberal II, São Paulo, Difel, 1985. Edgard Carone, A Quarta República, São Paulo, Difel, 1980.

23 Pierre Bourdieu y Alain Derbel, O amor pela arte, São Paulo, Edusp, Porto Alegre, Zouk, 2007.

24 Vamireh Chacon, Formação das ciências sociais no Brasil, São Paulo, Unesp, 2008.

25 Carlos Fico, O grande irmão, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2008, p. 8.

26 O site do projeto é https://www.archives.gov/findingaid/presidential-library-explorer

27 Elio Gaspari, A Ditadura Envergonhada, São Paulo, Companhia das Letras, 2002. Elio Gaspari, A Ditadura Escancarada, São Paulo, Companhia das Letras, 2002. Elio Gaspari, A Ditadura Derrotada, São Paulo, Companhia das Letras, 2003, Elio Gaspari, A Ditadura Encurralada, São Paulo, Companhia das Letras, 2004.

28 Mostra-se interessante que recentemente Gaspari começou a realizar a disponibilização do arquivo no seguinte site https://arquivosdaditadura.com.br/.

29 O site do projeto é https://maitron.fr/

30 Emmanuel Le Roy Ladurie, Le territoire de l’historien, Paris, Gallimard, 1973, p. 14.

31 Preocupação que o seu principal idealizador, o historiador argentino Horacio Tarcus, apresenta há muito. Sobre isso, Cfr. seu artigo “Para un programa de estudios sobre los marxismos latinoamericanos”. Horacio Tarcus, “Para un programa de estudios sobre los marxismos latinoamericanos”, Memoria n° 257, México D. F., Cemos, 2016, pp. 62-73.

32 Horacio Tarcus, “Ingenieros, José”, Diccionario biográfico de las izquierdas latinoamericanas, 2020. Disponível em https://diccionario.cedinci.org/ingenieros-jose/

33 José Ingenieros, Tratado del Amor, Buenos Aires, Rosso, 1940.

34 José Ingenieros, O que é o amor?, Rio de Janeiro, Laemmert, 1968.

35 Marcos del Roio, “Pereira, Astrojildo”, Diccionario biográfico de las izquierdas latinoamericanas, 2020. Disponible em https://diccionario.cedinci.org/pereira-astrojildo/, Patricia Lessa, “Werneck, Maria”, Diccionario biográfico de las izquierdas latino-americanas, 2021. Disponible em https://diccionario.cedinci.org/werneck-maria/

36 João Victor Lourenço de Castro y Luccas Eduardo Maldonado, “Konder, Leandro”, Diccionario biográfico de las izquierdas latino-americanas, 2021. Disponible em https://diccionario.cedinci.org/konder-leandro/; Luccas Eduardo Maldonado, “Rocha Barros, Alberto Moniz da”, Diccionario biográfico de las izquierdas latino-americanas, 2021. Disponible em https://diccionario.cedinci.org/rocha-barros-alberto-moniz-da/; Luccas Eduardo Maldonado, “Moniz, Edmundo”, Diccionario biográfico de las izquierdas latino-americanas, 2021. Disponible em https://diccionario.cedinci.org/moniz-edmundo/; João Victor Lourenço de Castro y Luccas Eduardo Maldonado, “Rodrigues, Leôncio”, Diccionario biográfico de las izquierdas latino-americanas, 2021. Disponible em https://diccionario.cedinci.org/rodrigues-leoncio/; Luccas Eduardo Maldonado y Caio César Pedron, “Pierucci, Antônio”, Diccionario biográfico de las izquierdas latino-americanas, 2022. Disponible em https://diccionario.cedinci.org/pierucci-antonio/

37 Em certa medida, toma-se a posição de Carlo Ginzburg a respeito da combinação de estudos gerais e específicos, opinião particularmente interessante uma vez que se trata de um grande especialista em micro-história. “O objetivo específico desse tipo de pesquisa histórica deveria ser, penso, a reconstrução do relacionamento (sobre o qual tão pouco sabemos) entre as vidas individuais e os contextos em que elas se desdobram”. Carlo Ginzburg, “Controlando a Evidência: o juiz e o historiador”, Fernando Novais y Rogerio Forastieri da Silva (org.), Nova História em perspectiva, São Paulo, Cosac Naify, 2011, p. 357.

38 Está nesse contexto a dissertação de mestrado de Frederico Duarte Bartz, publicada como livro intitulado O Horizonte Vermelho. O trabalho constitui um estudo sobre as graves operárias de Porto Alegre no pós Revolução Russa. Frederico Duarte Bartz, O Horizonte Vermelho, Porto Alegre, Sulina, 2017.

39 Anthony Grafton, op. cit., 2006.

40 O site do projeto é https://americalee.cedinci.org/

41 Manuel Andrés Lagos Mieres, “Arenas, Celedonio”, Diccionario biográfico de las izquierdas latinoamericanas, 2020. Disponible en https://diccionario.cedinci.org/arenas-celedonio-enrique/

42 Eduardo Galeano, Las venas abiertas de América Latina, México D.F, Siglo Veintiuno, 1971.

43 Nicolás Guillén, Páginas Cubanas, São Paulo, Brasiliense, 1985. Nicolás Guillén, Antologia poética, Rio de Janeiro, Leitura, 1961. Há de se destacar duas coisas sobre a edição de Guillén no Brasil. A primeiro é que a Antologia poética foi uma seleção de textos elaborada pelo poeta mineiro e militante comunista Ary Andrade. O trabalho apareceu pela editora vinculado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) Leitura e foi ilustrada com imagens do também militante comunista Candido Portinari. A segunda é que existe uma preciosidade bibliográfica de Guillén ainda nos anos 1940. Em um livro de traduções do poeta modernista Manuel Bandeira, consta-se a presença do cubano juntamente de uma série de outros autores, sem necessária vinculação entre eles para além da apreciação da escrita lírica, como Johann Wolfgang von Goethe, Federico García Lorca, Christina Rossetti etc. Manuel Bandeira, Poemas traduzidos, Porto Alegre, Globo, 1948.

44 Pierre Bourdieu, “Les conditions sociales de la circulation internationale des idées”, Actes de la Recherche en Sciences Sociales n° 145, 2002, p. 3.

45 Angel Rama, La ciudad letrada, Hanover, Ediciones del Norte, 1984, p. 29-34.

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